sodomia doméstica em três atos

terceiro:

E é sobre seus ombros que sacodem as pernas respondendo ao seu passar de língua, no que diriam os poetas, tal como zangão na flor que se abre e recebe. Como disseram os poetas, dizei-me obviedades como as abelhas aos lírios, zumbidos, inunda do mesmo o mesmo nas bacias rasas dos meus pacientes ouvidos, acamados, enfermos, solipsados, solapados nos sons de carne, empapados de suor, lustrados, espanque os surdos, batuque, bata forte no couro, se infle de razão e com razão no vazio dos não-ditos, diga. Que é que ia dizer? Que é que dizia? Ritmado-músculo entre círculos e botes, deslizando e arrastando o suave-salgado da pele pelos seus outros sabores, epidermes patinando gelo sobre gelo, solapando qualquer resistência sequer possível, sequer provável, nela que sem nome agora no orgasmo, mal segura o beck apagado que salta solto em seus dedos erguidos, um rabo ardendo, um outro sentado, olhando.


segundo:

É feito de fato o combinado sob a luz de um lustre lilás, ela como o fio condutor duplo de desejos que por contrato não se tocariam, ela como a zona de guerra erógena, as valas entre as tropas, ela como brinquedo compartilhado por crianças egoístas; o namorado a encontra por trás, saboreando sua nuca nua na intimidade de ser ela a extensão de si, supõe-se, músculos envolvem e se movem de trás como videiras em direção aos seios e, já sem avental, já sem cueca, o imberbe cobre com a própria pele a outra pele que arrepia. O mestre, professor, recatado sem rubor, rubro sem remissa, começava gentil a jornada de tomar-parte no corpo que ela lhe oferecia, ofertava, dançando a valsa formal os casais de línguas e lábios, tabelando, percebia, ia ele por muito conservador explorando cauteloso a terra não mapeada dos ombros dela com os dedos, descendo como orvalho até o encontro de suas coxas, isso, ia erudito dedilhando como o piano que tocava nos sábados de manhã nas aulas que tomava há anos com a sra. Olívia sua esposa, o batom rubro e a poeira brilhando no halo da janela, calma e suave, segurando suas mãos brutas e sem talento onde ela as queria que ficassem, iniciara-o nas artes; e os dedos molhados do professor vão em direção à língua que era sua, à língua que era dela e, forçado pelas mãos não-sabe-se-mais de quem é língua ou não, à língua do namorado, e depois à buceta, novamente se molham mais, agora mergulham, e a mão fora à flora do grelo finge que não sente a presença da presença do outro, por-dizer, que se apresenta, uma barriga dura de academia forçando o pulso peludo, há-por-onde que ignorar é a forma mais pura de sentir, em mútuo se tocando em caos de cama, suores em garoa densa; o lilás já era roxo entre as linhas brancas dos meios raios na mesa de cabeceira, no que diriam os filólogos classistas ou os juristas textualizadores, obscuris vera involvens, treme o fessor quando ouve a voz grossa que implora pedindo um pouco do seu rabo, implora não, demanda, o rabo empinado de ficar chupando ela deitada, a cena dada, os dois há tempos pingando na cama e no tapete, os dois há tempos se olhando meio-assim, o namorado duro de desuso, apontando o teto, quase pedindo carona com a peça pulsando, que tesão do caralho, tá tenso véi, deve ter rolado um viagra e eu nem vi, ri e pede de novo, na moral, sem viadagem, ou com, também, se curtir, e tal, no sigilo, e fica assim, no pendurado da coisa; porra fessor, porra, a moça se solta da sucção depois de muito, não se sabe quanto, ou quando, muito tanto que não quer mais que continue, sai da beira da cama em chutes de repulsa, repousa, desmaia ou dorme enquanto continuam as sobras, têm que continuar; é meio que sem mordaça agora e durasso que ele aceita, fodasse, a-essas-horas, não sabe muito lidar mas rola demais, se tocam os dois, as mãos nas bundas, quase se elogiam, rola um respeito, rola uma entrega, falam que rola um lance tipo homem-mulher nessas paradas mas ela vendo meio grogue tentando levantar pra trocar a água do bong e catar alguma ponta bacana do chão acha que não, tá homem-homem mesmo o fessorim todo aberto se deixando ensinar pelo menor, não rola muito tapa, sei lá, rola uma igualdade de dar inveja e pensar de novo em querer ser lésbica, sapata mesmo de dedo-gatilho, pra não ter que ficar nesse meio tesão meio tédio tendo que se sujeitar a cada narrativa que até a Madre Teresa ia tirar o hábito pra ajudar, gozou uma vez e já tá demais na média dos últimos tempos, já tá fora-da-curva, qualquer coisinha a mais hoje ia ser de causar susto, pegou um sal, deu mais um teco, tá ótimo, e sentou na cara desse velho fodido no chão, que depois de doer e ficar bom e não sentir mais nada, agora além de dominado por quem não sabe nem o nome, ele não sabe nem o nome do cara, sem saber que horas são, nem o quanto tá louco, sentindo a coxa segurada cada vez mais forte, pedantão ainda que humilhado, pensa em pont entre deux amants, o quão irônico, o quão marcante, objetificado o objetificante, ela muito da prostituta e cafetina, ele pensa, inocente é o caralho, pensa na esposa, que horas deve ser, será o quanto que eu fiquei de muito chapado, lanugem com barba com nu com pelos da bunda, o namorado tava quase pra gozar, quase aí, viado, peraí, porra, urra, esmurra e esporra dentro desse tiozão que ficou se punhetando até melar a própria barriga, e é só tirando o caralho de dentro que veem que nem rolou capa, se foda, melhor, o garoto ri, a garota ri ─ temendo pelo colchão ─ levantando só pra apreciar a cena, o cara não tem nada pra fazer além de rir junto pra não surtar ali mesmo, no-duro, procurando um horário, abrindo janela, procurando o maço, acha o celular, cedo, demais até, notificações zero, a bunda um pouco doendo, rodam o bong mais sessenta vezes antes dele pensar que filha-da-puta safada ela era de chamar ele aqui pra ser enrabado e nem poder ficar puto por, a, ter gostado e ter visivelmente gostado porque pra além de ter gostado na hora ele travou e não soube desbaratinar e por, bê, causa desse discurso bem new-age old-goth dos anos noventa que ele usava de revolução sexual e prazer sem culpa pra ter carte blanche de fazer sujeirada na hora ─nas horas todas que de sujeirada trair nem entrava na conta ─, vai ter que levar calada pra casa essa boca que bezerrou gostoso o bastão de Baco quando chegar e ter que ainda mandar uma jantinha pra dentro olhando pra esposa que sempre esperava ele e, nem depois de escovar muito os dentes, nem depois de dois ou três benzos, ter que dar bença pra filha.


primeiro:

Armadilha, não soubera, tão jovem ela, tão bonita nas aulas quinta-sexta que sempre riu puxando o ar gemendinho agudo, ninfetinha, tão frágil e ele queria, disfarçado né, mas queria, fizera amiga ─e aí, Júlia, e os estudos e tal, e o projeto de Iniciação já pensou-sobre, tem que montar o lattes e tal ─, esperta demais ela dando zero moral pra ele e quando o cara não espera mais, tipo na época da formatura ela vem e convida, tipo, imediatamente depois dele entregar pra ela a ata de defesa da monografia no email, saiu a nota e ela responde, chamando, vamo lá, bora-prófis, de congratulations, pode ser na minha, cabô, demorô, ele duns olhos comendo o mundo com vidro e tudo, chegando e batendo na porta meia hora antes do marcado e encontrando o namorado, um armário, que abriu de cueca e avental preto e tal marcando a mala mesmo como-se-nada, meia bomba de esperar, se pá, era o que tava implícito, pelo menos, era a mensagem, que já é pra avisar esse tarado aí, se soubesse, tadinho, leve das-ideias, inocentinho, o fessor diria ser a pista profética da epifania da noite, que ele, o otário de fora do pórtico da porta, pra entrar, teve que dar uma encostada, como se não tivesse espaço. Esse otário que teve que dar uma puta volta na cidade pra rolar dessa noite, vendo o garoto chamando pra entrar e mostrando pra esse filho-duma-puta a putaria que ele bem-gosta; se não quisesse voltava, deve ter vindo de carro, mas deu a mão já dentro da casa perguntando cadê ela, cadê e ela no banho ainda, nem aí, o garoto meteu uma patolada que foi bem-vista e mal-disfarçada, fechou a porta, pera aí, pergunta, trouxe o corre, pra deixar de boas, trouxe sim, pra já pegar os equipamentos, o kit num estojo esgarçado da Moranguinho, e o professor gasta hora falando do chá, falando de bright, falando sei lá o quê nervoso pra desgraça até ela chegar de camisola e a única coisa jovem que ele pensa é na Mariah Carey naquele clipe que ela tá meio putona e meio chique, o foda é que ela tá a mais suave de todos, talvez sem sutiã já, tirando ele que pontualidade é meio brocha, terminando de bolar a quase dúzia que eles tavam parangando, pegando o namorado na sala mesmo, na frente do velho, superando-fácil a surpresa do tanto de verde que ele trouxe na mesa como se ela tivesse mais-que-acostumada a ver droga de quilo, e dos pontos sociopolíticos compartilhados como pré-foda, ele fala, ele fala assim, bem-assim, então a gente vai fingir que ninguém fuma, que ninguém chapa, que ninguém transa e tal, des-cons-tru-in-do mes-mo o bagulho, como se só tivesse quatorze-anos naquela sala, o cara traçando a moralidade de rasgar galhada na testa da fiel de que acoitada devia tá em casa achando que o cara tá dando palestra pra empresário ou sei lá, porra, ele querendo ficar sabendo se ela tava de boas com tudo isso sendo que foi ela que escreveu, dobrou e lambeu o convite, que-que ele tá arrumando, que brisa toda é essa, e ela já de saco cheio daquele papo de militante de pau duro, sai fora, batendo sozinha na cozinha a massa toda que sobrou dos becks no liquidificador pra não ter que ficar dixavando essa merda no meio do rolê, já fumando por conta, que pira tá sendo essa vey, enquanto os machos ficam lá, se punhetando com empoderamento feminino, ai vey, ela jurou no chuveiro que não ia ficar rachando nessas merdas, só transar, relaxa, o boyzy dela viu a foto do velho no ícone do meet e mandou que era, ela falou que não-era ─ sabia que não era ─, ele falou que é só olhar que sabe, é de-saber, aí no que ela cometeu o irreversível de falar que sabia que não era e tinha certeza que não era porque ele já veio perguntando e tal e tal e aí foi a vez do namorado vir perguntando qualé e por que e se o velho tava assediando ela, não, não tava, nos técnicos da coisa, mas que queria era óbvio, ela falando pra ele, quando rolou, esmiuçando porque qualquer coisa vira argumento depois, e aí vai aí vem de quem-sabe-menage e sepá-cê-conhece-alguém que topa e vinte-mil-anos pro cara desenrolar que quer comer cu de homem, como se ela tivesse alguma coisa com isso, o rolê era que ele tinha grana e fumava, circulavam os boatos, então no útil e agradável ela veio costurando pra ver no que dava e deu. Quase se arrependendo já, a essa altura do campeonato ela não tava cagando em forma nenhuma dentro da geometria, lembrando da cara dele na sala de aula, fazendo o feministo, contando dos relacionamentos modernos e compreensivos que teve nas viagens pela América Latina, os contos que escreveu-sobre, sobre a esposa e o curso que ele fez com essa esposa, e o pianinho internacional da tal da esposa que ele tirava férias pra ela poder ir, tem uma galera meio patética que apelidou ele de Come-Come por causa das biscoitadas que uma galera mais patética ainda vive dando pra ele no insta, sempre rolaram boatos de que na moita ele pegava as alunas e que publicamente nos micropoderes da coisa dava preferência pros alunos mais bombados, depois que o boyzy falou não era mais difícil ver, é, curtia, meio-que-óbvio-que, mesmo que não só. E ele queria, o boyzy. Mas não queria se enfiar num banheiro público qualquer e ficar esperando igual qualquer outro, ela que tinha que fazer a fita, era ela que tinha que ir e mandar um suor no labor emocional e diriam até erótico da coisa. Tudo sem-saber. Tudo pra ficar bem espontâneo. E as drogas, que era real coisa mais-dela. O véio ia aplicar e na moralzinha com o preço que tá sepá vale a pena. Aí ficar fazendo a pêssega, fazendo a ai-mas-eu-não-tô-entendendo-mô-cê-nunca-nunca-nunquinha-pulando-amarelinha-sequer-imaginou-que-nossa-senhor-cê-deve-tá-se-sentindo-muito-ofendido-agora-mas-sepá-sabe, como que o namorado ia comer o cara era outra história. Se sujarem a fronha vou ficar putassa. Tá fòda, tá fòda achar só fòdas assim, de achar um outro namorado que seja aberto assim porque tem hora que bate-vontade mesmo e ficar de-casinha não tá rolando por enquanto. Mas ela tinha amigos viados, vários, galerinha que limpa o cu e tudo. Por que não? Como se ela ligasse, como se fosse problema dela. Mas a fronha, meu. A fronha não, o colchão. Não, colchão é fòda. Que bom que tá dando pra ficar louca, tá meio fòda ficar sozinha também por causa do tesão e tudo, na crista da onda pensar em como resolver o problema do colchão, se rolar. Término não tá nos planos, apesar de que pensar já é meio-um-mal-sinal. O rolê é tentar gozar intenso nas ondas da trip e abstrair no cheiro da amônia, nem pra comprar uns camarãozim, não tá servindo nem pra sugar daddy, se eles transassem na cam e mandassem o dinheiro prum dos amigos dela, que era viado, mozy tinha a transa e a bunda. Ele é bonito, ela arranjou um dos bonitos, galera comenta e ela fala só-vai. Mas não, ninguém vai, ninguém tem a coragem e ele não abre a cara. Não, ele quis o véio. Tá que é bonito também, já deve ter nascido assim todo com essa vibe marketeira e palestrosa que os guris adoram de ver e querem ser um dia e só ter ganho essa pança de Balzac depois de casado, uma pança que combina também, tudo muito que dahora, até. Não pensar nesse lance é bom, no lance do casado, nossa, se não desse pra ficar louca, nem sei, só sei que é hoje que a gente vai usar esse lubrificante com esse bagulho com nome de droga, e por-deus se rolar alguma coisa com o colchão. Se estragar o colchão eu vou ficar puta.

2018 julho

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